Por que observar bebês?

O recém-nascido tem que se adaptar ao mundo em que chegou. Imagine o que acontece com o bebê que nasce. O ambiente uterino é um ambiente especialmente preparado para o desenvolvimento do feto. Quando a mãe e o bebê são saudáveis e não acontecem intercorrências durante a gestação, há um total equilíbrio, o feto não sente fome, sede, frio ou calor. A temperatura é ideal e o ambiente líquido e acolhedor minimiza os impactos e ruídos.

Ao nascer o bebê precisa de um ambiente calmo, tranquilo, silencioso em que ele seja cuidado de forma gentil e atenciosa. O papel dos pais e dos educadores é ajudar os bebês a fazerem a transição entre estes dois ambientes, o uterino e o mundo.

Observar bebês é uma importante forma de auxiliá-los nesta transição, o que vai possibilitar entendê-los nas suas características individuais.

O adulto deve tornar-se um observador sensível durante os cuidados e os momentos do dia-a-dia. Nas palavras da Dra. Emmi Pikler:

“O que é essencial é observar. Conheça o seu filho. Se você realmente reconhecer o que seu filho precisa, se você sente o que está causando seu incomodo, o que ele precisa, então você responderá de forma correta. Você vai orientar e educar o seu filho bem”

Bebês calmos – Mães satisfeitas

Emmi Pikler

 

Observar, no entanto, não é algo simples ou fácil. Para que seja possível observar é necessário um estado de quietude e atenção focada que não acontece quando a mente está agitada. É necessária uma preparação interna, limpe sua mente, esteja inteiramente presente, deixe as teorias e os pré-conceitos de lado para que você possa ver a situação de forma mais clara.

Ao observar, atenha-se aos detalhes, aos pequenos gestos e sons, aos pequenos “nadas” que acontecem. Perceba a linguagem corporal. Gradativamente você irá perceber como o bebê resolve pequenos problemas, lida com frustrações, como aprende e como o adulto pode ajudar neste processo. Os seus gostos, humores e habilidades se tornarão conhecidos e a personalidade única do bebê será reconhecida.

Se você aprende como observar e entender a personalidade de uma criança, o vínculo e a interação serão de qualidade. Ao oferecer à criança presença e atitude atenciosa é como se você estivesse dizendo que ela é digna do seu interesse e atenção. Todo ser humano gosta de ser ouvido, de receber atenção verdadeira, aceitação e aprovação. Não há nada melhor a ser oferecido a um bebê.

Observar também possibilita avaliar melhor o que se deve fazer cotidianamente seja em casa ou no âmbito profissional, na educação infantil. Será que: Está bem assim como vem sendo feito? Seria melhor de outra forma?

A observação é necessária, indispensável ao trabalho educativo e para o bem-estar das crianças.

O desenvolvimento infantil é muito amplo, há vários aspectos que podem ser observados. As atitudes durante os cuidados, a vocalização e a palavra, o brincar, o desenvolvimento motor (que pode ser dividido entre a coordenação motora global e a coordenação motora fina), o controle dos esfíncteres, o ritmo do sono, a dentição, alimentação, o banho, a saúde física, o relacionamento entre os pares e com os adultos, os humores, etc.

Mas, o que de fato não pode deixar de ser observado? Quais são os marcos e parâmetros que nos ajudam a compreender o desenvolvimento infantil?

A Abordagem Pikler elegeu cinco áreas de observação da atividade infantil. São elas:

  • Desenvolvimento motor
  • Atitudes durante os cuidados (troca de fraldas, o banho, vestimenta e alimentação)
  • Aquisição do controle dos esfíncteres
  • Desenvolvimento cognitivo revelado através da coordenação óculo-manual nas atividades do brincar
  • Desenvolvimento da vocalização e da palavra

 

Estas cinco áreas de observação são norteadoras. E perceber os detalhes significativos e separá-los dos acontecimentos globais é fundamental. Portanto estudar cada uma destas áreas é uma tarefa indispensável ao educador de crianças de 0 a 3 anos.

Para se fazer uma boa observação é importante definir um foco de observação. Definido o foco, fazer uma descrição exata detalhada e precisa possibilita a troca de ideias e ajuda a compartilhar observações.

As anotações podem ser variadas:

  • Diárias de situações diversas ou que se repetem
  • Anotações de um mesmo acontecimento, quando ocorre
  • Notas posteriores a uma observação
  • Simultâneas ao curso dos acontecimentos – durante a observação

 

As fotos e filmagens são muito úteis porque podem ser apreciadas várias vezes e por diferentes pessoas sendo registros exatos dos fatos ou acontecimentos.

Quando os relatos não são observações exatas, já incluindo apreciações sobre os fatos, a troca de experiências não acontece, não encontra um lugar.

Mas, mesmo as fotos ou filmagem precisam ser colocadas em um contexto. O que aconteceu imediatamente antes ou depois também pode mudar a visão que se tem do acontecimento ou do momento registrado. E também o histórico da criança muitas vezes explica uma atitude ou um comportamento que talvez seja incompreensível sem um contexto.

A Dra. Pikler nos alerta: “Os olhos não bastam para ver. Tem que saber observar, sentir e pensar no lugar da criança, poder entrar no seu mundo, identificar-se com ele”

Emmi Pikler

O que sabe fazer o seu bebê?

Livro publicado em 1938

 

É muito importante registrar o desenvolvimento infantil, pois a dinâmica do desenvolvimento, isto é, o caminho percorrido para se chegar a uma determinada habilidade é bem mais importante e revelador de cada individualidade do que a idade em que ocorre uma determinada habilidade.

Por meio da escrita é possível deixar marcas, produzir história, guardar a memória de processos educativos. O registro promove reflexão, amplia a percepção e possibilita uma maior presença do educador, o compartilhamento de descobertas, além de ajudar a estabelecer relação entre teoria e prática.

“Todo novo objeto, bem contemplado, abre um novo órgão em nós”

Goethe

 

Bibliografia:

FALK, J. – 1997. “Mirar al Nino – La Escala de Desarrollo”. Instituto Pikler (Lóczy). Argentina. Ediciones Ariana.

FEDER, Agnès Szanto – 2014. “Una mirada adulta sobre el niño en acción – El sentido del movimiento en la protoinfancia” Buenos Aires – AR. Ediciones Cinco

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